terça-feira, 17 de novembro de 2009

Resenha da Obra de Marx "O Manifesto do Partido Comunista".

INTRODUÇÃO

Mil oitocentos e quarenta e oito foi um daqueles anos tumultuados que entraram para as páginas da história. Representou um ano de revoluções na maioria das capitais da Europa, com derrubada de dinastias, proclamação de comunas e a entusiasmada comemoração da igualdade humana do alto das barricadas. Os efeitos foram tão apocalípticos que ainda se faziam sentir mais de meio século depois, durante a deflagração da Primeira Guerra Mundial. Entre todos esses acontecimentos revolucionário de 1848, é possível que tenha sido a publicação do Manifesto Comunista o que mais causou impacto duradouro na história – ainda que, ironicamente, tenha tido pouquíssima repercussão no ano em que foi publicado.

O comunismo já existia antes de 1848, como uma mistura incômoda de ideias utópicas, socialismo e igualitarismo – descrito no Manifesto como um ‘espectro’ que rondava a Europa -, mas até a publicação deste documento ele não tinha forma, filosofia ou projetos coesos, nem era um movimento unificado. A publicação do Manifesto em Londres, em 21 de fevereiro daquele ano, mudou totalmente esse quadro.

O Manifesto é o tratado político mais erroneamente entendido e interpretado na história, ou senão o mais equivocado deles, dependendo das convicções politica de cada um. Mas também é mais que apenas um manifesto: é o esboço de uma revolução na história, na filosofia, na sociologia e na política. Como tal, continua a ser um documento importante.

RESENHA

Comissionado pela Liga Comunista e escrito pelos teóricos fundadores do socialismo científico Karl Marx e Friedrich Engels, expressa o programa e propósitos da Liga. O Manifesto sugere um curso de ação para uma revolução socialista através da tomada do poder pelos proletários. Marx e Engels partem de uma análise histórica, distinguindo as várias formas de opressão social durante os séculos e situa a burguesia moderna como nova classe opressora.

“Um espectro ronda a Europa: o espectro do comunismo.” Com essa celebre afirmação, Karl Marx e Friedrich Engels publicaram a afirmação da ideologia comunista, estudado em todas as épocas posteriores para uma melhor compreensão tanto do comunismo quanto do capitalismo, como seu próprio antagonista.

O texto é revolucionário e em muitas partes irônico, com intuito de denunciar o regime capitalista incitar o proletariado descontente a lutar contra ele. A liga dos comunista pretendia, através do texto de Marx e Engels, na época com 30 e 28 anos de idade respectivamente, deixar clara as ideias que defendiam, bem como dissipar concepções errôneas e pejorativas a respeito do comunismo, as quais eram espalhadas aos quatro ventos pala Europa, por aqueles que dele descordavam e a ele temiam.

O documento organiza-se em introdução, três capítulos e conclusão. Denuncia inicialmente o medo com que as classes dominantes (os burgueses conservadores da época) viam os comunistas, como aqueles que vinham para ameaçar a ordem que se impusera, de lucro e exploração, com declarações polêmicas do tipo “no lugar da velha sociedade burguesa uma associação na qual o livre desenvolvimento de cada membro é a condição para o desenvolvimento de todos.” Temiam e ainda temem o comunismo, aqueles que tremem à simples menção do termo “divisão igualitária”.

No primeiro capitulo os autores procuraram esclarecer de que maneira se organizam as relações de trabalho no sistema capitalista. Na visão Marxista, toda a historia da sociedade humana é impulsionada pela luta de classe sociais, e as revoluções são sempre marcadas pela rivalidade entre elas, sendo, essencialmente, uma que explora a outra que é explorada. Assim, procuram demonstrar como o sistema capitalista torna essa rivalidade ainda mais ferrenha e acirrada, baseando o modo de produção num sistema de exploração não disfarçado, mas declaradamente assumido , visando o lucro como fim em si mesmo, como objetivo maior a ser perseguido a qualquer custo.

Existem um documentário canadense que mostra essa busca excessiva pelo lucro das grandes empresas mundiais o nome dele é “The Corporation” bastante interessante nesta questão de exploração dos proletários. Em um mundo bastante corrido e com um mercado tão disputado, as corporações vêm como necessária a obtenção de novas maneiras de se aumentar os lucros e ganhar espaço perante a concorrência. Mas, até que ponto se pode chegar para que isso aconteça? O que se deve enfrentar? Derrubar? Com o que se preocupar? Preocupação é algo bastante limitado nas corporações, ou seja, elas só se preocupam com o que pode afetar seu desempenho direta ou indiretamente. Daí surge a questão: para a maximização dos lucros deve-se levar em consideração as questões éticas? Os fatos comprovam que não, segundo o documentário “The Corporation”, as corporações não levam em consideração as questões éticas se elas forem um empecilho para o alcance de seus objetivos.

Neste ponto observamos como o Manifesto continua atual, sendo as palavras de Marx e Engels facilmente aplicáveis aos nossos dias. Mais de um século e meio depois, o regime capitalista só fez aumentar ainda mais a diferença social entra as classes, aumentar a pobreza, diminuir as condições de vida dos que trabalham para atribuir riqueza aos que exploram.. deixa explicita a ideia de que para os ricos existam, é preciso existirem os pobres. E que o Estado é tão somente um comitê organizado para defender os interesses da classe dominante, em qualquer sociedade.

A globalização e a exploração tecnológica a que somos expostos são apenas outra roupagem para o que o Manifesto declarou como “as maravilhas da burguesia” – “remendo novo em odres velhos.” Ao declarar como a burguesia revolucionou a sociedade, não está , definitivamente, tecendo um elogio ao capitalismo, mas alertando como esses sistema conseguiu mexer com as estruturas sociais de um modo antes nunca visto, alterou todas as relações entre as pessoas, até mesmo as familiares, fazendo com que os indivíduos, embora presos como escravos às novas necessidades criadas pela burguesia para viabilizar o comercio , tenham uma impressão de liberdade, uma sensação de crescimento, de prosperidade e igualdade de oportunidades. É o liberalismo lançando suas teias. O neoliberalismo de hoje só faz reproduzir a mesma ideologia em outro contexto, ainda mais cruel e frio de mais valia, de lucro fácil a qualquer preço, ao custo de vidas humanas.

“Os operários não tem pátria. Não se lhes pode tirar aquilo que não possuem.” Deste modo seguem afirmando que a suposta liberdade, a propriedade privada, a nacionalidade e todas as outras premissas do capitalismo não passam de quimera, onde o que realmente prevalece é o direito de compra e venda, para alimentar os interesse burgueses, enquanto do resto até o direito da vida lhes é tirado. Segundo Marx, o proletário não pertence a si mesmo. Não passa de mais uma propriedade da burguesia.

É quando a lista de mediada que fazer necessárias para implantação do regime comunista, que o Manifesto passa a receber suas mais duras criticas. Quando menciona a exploração de terras, a abolição do direito a herança, o confisco, o trabalho obrigatório, bate de frente em nossos anseios mais profundos, e causa estranheza e repulsa à nossa mente ocidental consumista. Muitos autores condenam esse tipo de medidas, alegando que o autoritarismo, o abuso do poder e da ambição são sempre mais forte que as ideologias.

Um outro ponto pelo qual Marx também é questionado é ter simplificado de mais as relações de trabalho no sistema capitalista, debruçando-se apenas sobre os dois extremos – capitalistas e proletário – relegando assim, outras classes da sociedade a segundo plano, como a classe média. Hoje em dia, não seria tarefa fácil analisar as relações sociais puramente pela ótica Marxista do século XIX, pois vimos surgi outras relações de trabalho, como os prestadores de serviços e setores importantes da agricultura.

No capítulo final, Marx e Engels passaram a criticar ironicamente o próprio socialismo, em suas varias manifestações, e a literatura socialista corrente em vários países da Europa. Acusam as varias ramificações do socialismo de serem contaminadas por influências externas contrárias à própria filosofia deste , e citam o socialismo feudal, o socialismo clerical, o socialismo pequeno-burguês entre outros, acusando de manipular a essência socialista e comunista em favor de interesses de derrubar a burguesia para, eles próprios, levantarem-se em nova dominação. A burguesia também se aproprio dessa filosofia, tentando usar seus preceitos para acalmar os ânimos do proletário. Queriam as ideias do socialismo, porém sem o caráter revolucionário que lhe são inerentes. Tentativa condenada e desmascarada pelos autores, de “atenuar a luta de classes e conciliar os antagonismo.”

CONCLUSÃO

Podemos concluir, portanto, quanto o comunismo quanto o capitalismo carregam suas contradições. Sendo assim, não pode ser, um ou outro, defendido como sistema perfeito ou ideal para esta ou aquela sociedade, pois ambos apresentam pontos obscuros e questionáveis, que merecem ser ainda objetos de estudo e reflexão.

A obra em si trata-se de um discurso inflamado, que conclama a classe trabalhadora a unir-se contra o jugo da injustiça e da exploração.

Enfim, o Manifesto Comunista é, ao mesmo tempo, histórico e atual, contraditório e autêntico. Um dos documentos de maior influência em todo mundo. Não podendo, indicar talvez o caminho para o fim doa males de nossos dias, contribui certamente para suscitar um espírito crítico e ampliar a visão embotada da imensa maioria a respeito de sua própria contradição na sociedade vigente. Cumpre o se papel de emocionar e conclamar para a batalha, em sua efervescência apaixonada. Se não para provocar as mudanças exteriores que propõe, ao mesmo para modificar de dentro para fora. É um texto curto, sucinto, direto. Mostra a que veio e dá o seu recado sem reservas. Dissipa mal-entendidos e esclarece ideias preconceituosas a respeito do comunismo. Se seus conceitos são viáveis atualmente, difícil responder. Nem mesmo os cientistas políticos o sabem. Estaria nossa sociedade preparada para abdicar tão ponto de seus bens privados em beneficio do todo? Nossa mentalidade individualista estaria tão cristalizada que atingimos, talvez o ponto de onde não há retorno? Certamente que a maioria concorda com a ideias apresentadas por Marx e Engels no Manifesto, no que tange à exploração do trabalho. No entanto, para esta mesma maioria. Que existe ainda. Longe de um anseio sincero de igualdade, é a celha e muitas vezes infalível sabedoria popular: “O que é seu, é nosso. O que é meu, é meu.”